domingo, 3 de outubro de 2010

Pragas brasileiras 5: a lei da vantagem



Não tem jeito: em todos os lados, o que impera nesta terra brasilis é a lei da vantagem, também conhecida como lei de Gérson. Impressionante! Um exemplo auto-explicativo é a foto que ilustra este post: o trânsito cada vez mais caótico das nossas cidades, em boa parte por causa dos espertinhos que tentam tirar vantagem o tempo todo: furam filas, passam no sinal vermelho, estacionam em cima das calçadas ou em fila dupla e até tripla, ultrapassagens perigosas etc etc etc. O resultado, em geral, é este: todo mundo sai perdendo, ou melhor, ninguém sai: fica todo mundo preso pela própria esperteza...

Por falar em vantagem: nestes dias de campanha eleitoral, o que mais se ouve, ao conversar com as pessoas, é: vou votar em fulano porque ele me prometeu isto ou aquilo, ou me deu x reais etc. Aqui em Alagoas, a maioria dos candidatos paga, literalmente, em dinheiro, por votos. Geralmente um voto para deputado estadual “vale” R$ 50,00. Ocorre até disputa, e os mais espertos até conseguem receber de mais de um candidato.

O que a maioria das pessoas não quer ver é que o candidato que paga para ser votado vai tirar esse valor com juros estratosféricos, caso eleito. Eu tenho um paciente, de uma cidade ribeirinha mui aprazível, que quase sempre perde o dia da consulta porque raramente consegue lugar no transporte da prefeitura para a capital. Outro dia ele chegou revoltado, reclamando exaltadamente da situação do seu município, que está sendo dilapidado e saqueado pela verdadeira quadrilha que se instalou na prefeitura. Eu lhe respondi o óbvio: cada eleitor que aceitou vender seu voto por R$ 50,00 vendeu o médico no hospital, o remédio, a vaga do filho na escola, a vaga no transporte escolar e no transporte para pacientes etc etc por cinqüenta reais por 4 anos, e que nenhum desses eleitores tinha o direito de reclamar. Ele ficou pensativo, não disse nada na hora, mas me deu razão depois...

Outro exemplo gritante, que quase me leva à exasperação hoje: a quantidade de gente que usa de suas “prerrogativas” para furar a fila da seção eleitoral: “idosos” (alguns mais saudáveis que eu), gestantes, mães com crianças de colo (que se fossem passear teriam deixado o filho com a avó – porque não fizeram a mesma coisa hoje?), deficientes físicos, fiscais de outras seções eleitorais, uma multidão incalculável de pessoas em serviço (policiais, médicos, até carteiros fardados eu vi hoje!) – para completar: na meia hora que fiquei na fila para votar, passaram na minha frente 12 (doze!) pessoas com as mais diversas desculpas, algumas plausíveis e justificáveis, a maioria não. Haja paciência!


Ontem, em um programa de rádio, um juiz eleitoral dizia que a democracia se constrói aos poucos; as pessoas vão aprendendo à medida que vão votando. Isso leva anos, às vezes gerações inteiras, até que as pessoas percebam a força que têm nas mãos, com o seu voto. É verdade, não duvido; só queria que as coisas andassem um tiquinho mais ligeiro, nessa parte...

Nós, brasileiros, ainda temos muito que crescer como nação e como cidadãos. Ainda temos um longo caminho para percorrer, talvez em parte porque somos uma nação jovem (temos “apenas” 510 anos), embora isso não seja desculpa. A Austrália é mais jovem que nós e tem padrão de primeiro mundo. O que falta é educação, de todas as formas e maneiras, para todos. E também esse espírito leve, despreocupado, que faz a vida parecer mais fácil, mas que apaga a nossa vigilância para o que é realmente importante e o que faz a diferença – por exemplo, a escolha dos nossos governantes. Não apenas prefeitos, governadores e presidentes, mas também vereadores, deputados e senadores, igualmente importantes.

Estou acompanhando a apuração neste momento. Algumas boas surpresas, outras nem tanto. Vamos ver no que vai dar. Até a próxima!

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